15 de Agosto: Independência do Pará
Influência de Felipe Patromi e
Batista Campos na Adesão do
Pará à Independência do Brasil
Válber Salles*
Depois
de dois séculos da chegada dos portugueses ao Brasil, a Amazônia é formada de
uma população de característica própria, basicamente pelo caboclo, resultado da
mestiçagem do conquistador e a nativa. A maioria constituía as massas pobres
que habitavam as cabanas das vilas e dos sítios, dedicando-se a pesca,
agricultura e a coleta de sementes. Embora longe dos interesses e posições de
classe, unia-os um sentimento comum de nativismo que, quando em choque com os
estrangeiros, provocava reações de solidariedade ao lado de um radicalismo
extremo e cruel.
Em 1820 Belém
está agitada por idéias liberais, vivendo vibrantemente os acontecimentos que
se desenvolvem em Portugal, que, diretamente ligada à metrópole tinha a
Amazônia sua influência ideológica através de diversos jovens que iam a Lisboa
fazer seus estudos superiores e traziam de lá as novas idéias que ventilavam
pela Europa.
O sentimento
de independência e liberdade dos paraenses em relação aos domínios dos
portugueses foi reforçado com a chegada de Felipe Patroni a Belém, em 10 de
dezembro de 1820, regressando de Portugal para propagar em sua terra as idéias
nacionalistas e libertárias, iniciando seu extraordinário papel de precursor de
nossa independência política. Em Belém, juntou-se ao cônego Batista Campos que,
acima de sua devoção ao sacerdócio, principiava a libertação da Amazônia (área
territorial atualmente integrada pelos estados do Pará, Amazonas, Amapá, Acre e
Rondônia) do jugo português, dedicando-se integralmente aos problemas políticos
atraindo a confiança dos nativistas que o tinha como um grande líder.
Felipe
Patroni e Batista Campos são os representantes da esquerda do grande movimento
nativista da Amazônia. O caboclo que escalara todas as posições sociais, não
conquistara, todavia, o poder e eram eles que expressavam, com maior
consequência e firmeza, aquele anseio do homem da terra. Suas posições radicais
os faziam mais temidos pelos inimigos, atraiam-lhes, porém a desconfiança das
alas mais moderadas do próprio movimento.
O jornal “O
Paraense” (primeiro a ser editado na Província do Grão-Pará), sob a direção de
Patroni, circula em Belém no dia 1º de abril de 1822, com grande aceitação da
população, fez severas criticas aos desacertos e mazelas do Governo – linguagem
vibrante contra os erros administrativos –, e de defesa e incitamento de
liberdade da gente paraense. Coincidentemente, a dada de lançamento do jornal é
no mesmo dia em que chega ao Pará o novo Comandante das Armas, Brigadeiro José
Maria de Moura, transferido de Pernambuco. Patroni já conhecia a fama de
arbitrário do Comandante e que, no Pará, agiria com excessos de atos
arbitrários de repressão sobrepondo-se os do governo local.
Não gostando
das críticas do “O Paraense”, Moura tenta forja o assalto e destruição do
jornal e seu arquivo. Patroni é avisado com antecedência e muda de local
deixando as salas vazias, com isso aumentando mais os rancores do comandante
que, junto ao Corregedor da Justiça, obtém o pedido de prisão de Patroni,
alegando este ter desrespeitado Dom João VI, que é levado para o Forte do
Castelo e depois para Lisboa onde é encarcerado nas masmorras do Forte Torre de
São Julião.
Sob a direção de Batista Campos, com suas oficinas
funcionando em local incerto, “O Paraense” continua circular com as criticas ao
governo e sustentando com mais proporções as ideias liberais e, principalmente,
avivando os sentimentos nativistas; aumentando ainda mais o prestígio do Cônego
junto às camadas populares que frequentavam sua residência (localizada na rua
São Vicente, atual Manoel Barata) que ficava repleta de amigos,
correligionários, paraenses, amazonenses e nordestinos. Era uma força e comando
político, impondo ao governo e opinião pública. Batista Campos estava em seu
ambiente e continuava com a mesma atitude de Patroni (de combater o governo),
mas respeitado como chefe político e ídolo dos filhos da terra.
O 7 de
setembro de 1822 não produziu efeitos imediatos na região e os lusitanos
estavam decididos a manter a união da Amazônia com Portugal. Batista Campos
transcreve, no “O Paraense”, manifesto de D. Pedro, Regente, concitando a união
dos brasileiros a defesa da Independência do Brasil, programada no dia 7 de
setembro, e o natalício de D. João VI.
Razões pela qual é preso novamente e absolvido depois de 13 dias pelo Conselho
Criminal que não encontrou razões para mantê-lo encarcerado.
No
clima das últimas resistências do colonialismo português na Amazônia, já certo de
integrar o Império do Brasil, realizam-se em Belém, (em 25 de fevereiro de
1823) a primeira eleição para a sua Câmara Municipal e as de suas paróquias,
sob o regime novo da Constituição de Portugal. Por trás dos bastidores Batista
Campos impediu a escolha dos elementos reinóis fazendo uma Câmara inteiramente
nacionalista, conseguindo a primeira vitória dos brasileiros com seus
vencedores carregados pelo povo. Através de um golpe militar, a conquista foi
anulada logo em seguida e muitos de seus componentes foram presos e deportados;
enquanto que Batista Campos, para não ter o mesmo fim, refugiava-se nas matas,
ora no Guamá, Capim, Acará, Moju juntando-se aos caboclos e tapuias
despertando-os para a luta.
O
Governo apropria-se do material do “O Paraense”, instala-o em prédio ao lado do
Palácio, e com ele faz circular o “Luso Paraense” no dia 1º de abril de 1823.
Tal atitude indignou a população e a revolta espalhava-se pela Amazônia. No dia
14 de abril, o povo e parte da tropa em Belém, eclodem grande movimento em prol
da Independência, Moura sufoca-o com centenas de prisões. Em Muaná outro
movimento é deflagrado por Moura que instala uma devassa contra Batista Campos,
acusado de instigar a revolta no Marajó, Baixo-Guamá e Tocantins; vindo para
Belém 145 prisioneiros que somaram entre os já presos (total de 267) foram
condenados à morte e imediato fuzilamento. Romualdo de Souza interveio dizendo
ser da competência da Justiça de Lisboa confirmar e executa a sentença, Moura
envia-os a Lisboa numa escaldante viagem na galera “Andorinha do Tejo” onde
morreram uma centena e os restantes, restituídos à liberdade, volveram ao Pará.
Mesmo
Batista Campos foragido era uma grande ameaça aos atos de Moura, pois a
qualquer momento chegaria o movimento da Independência do Brasil. Em julho
regressa de Lisboa o Bispo Romoaldo Coelho, deputado as Cortes com a mensagem
de regressão de Portugal ao absolutismo e reúne os membros do Governo e os
cientifica, porém vence o voto de Moura de ser mantida a situação vigente,
conseguindo do Bispo assumir a presidência da Junta Governativa para que esta
se impusesse à confiança geral. A 1º de agosto, Moura promove parada militar
para aclamar D. João VI, mas irrita-se, ouvindo vivas a Pedro I, imperador do
Brasil, e atribuindo a amigos de Batista Campos e persegue-os.
Apesar
da vigilância que estabelece em Salinas, na manhã do dia 10 de agosto, o brigue
de guerra “Maranhão” surpreende Belém, e seu comandante Capitão John Pascoe
Greenfell, da Armada Brasileira em organização por Lord Tomas Cochrane,
almirante inglês. Greenfell apresenta ao governo do Pará a mensagem de Pedro I
concitando-o a adesão ao Brasil. O presidente da Junta Governativa, Bispo
Romualdo Coelho, reúne o governo e pessoas de responsabilidade, no dia 11, e
contra o voto de Moura e seis partidários, é resolvida a adesão.
Batista
Campos sempre bem informado entra em Belém no dia 14 e ainda ver os seus
algozes Moura e coronel Vilaça sendo presos como suspeito à Independência são
levados ao brigue “Maranhão e mais tarde enviados a Lisboa. Finalmente, no dia
15 de agosto daquele ano é oficialmente proclamada entre grande festividade
cívico-militares e religiosas, a Adesão do Pará e toda a Amazônia ao Império do
Brasil. A 17 é eleito o Governo Provisório
do qual Batista Campos integra e empossado no dia 18, juntamente é reempossada
a Câmara Municipal que Moura depusera.
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Jornalista e escritor. Editor
do jornal “O DESTQQUE”, tem várias pesquisas sobre a cabanagem, o negro, o
índio e aspecto sócioeconômico e cultural dos munícipes.paraenes.
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